sábado, 21 de novembro de 2015

UM ANJINHO QUE É TIDO COMO SANTO MILAGREIRO por Aline Rickly (Tribuna de Petrópolis)

Um anjinho que é tido como santo milagreiro
por Aline Rickly

Tribuna de Petrópolis - Domingo, 1 de novembro de 2015 - Ano CXIV - Nº 20

Título do jornal e data:

Página de capa:

Detalhe da página de capa:

DIA DE FINADOS

HOMENAGEM - O cuidado com as sepulturas é uma forma de demonstrar o carinho e o amor pelos familiares e amigos que já partiram. O movimento no Cemitério Municipal já era rande ontem na preparação para o dia de finados - Página 11


ANJINHO É LEMBRADO 
É impossível passar pelo cemitério e não notar a sepultura do menino Francisco José Alves Souto Filho, conhecido como Anjinho de Petrópolis. O número de brinquedos impressiona. Página 7

Metade superior da página 7:

Detalhe do texto da reportagem de Aline Rickly:

Quem passa pelo Cemitério Municipal se surpreende com a sepultura 685 ao se deparar com uma grande quantidade de brinquedos espalhados (mais de uma centena entre carrinhos, bolas e bonecos, além de flores). Naquele local, está enterrado Francisco José Alves Souto Filho, que morreu aos 3 meses, no dia 9 de abril de 1872. O menino vem sendo cultuado por petropolitanos que dizem que ele é um santo milagreiro. A criança, que ganhou o apelido de Anjinho de Petrópolis, por causa de uma imagem de um anjo que está colocada em cima do túmulo, é neto do Visconde de Souto, um dos amigos mais próximos de D. Pedro II. Em datas como Dia das Crianças e Finados, a quantidade de brinquedos depositadas na sepultura triplica.


Foto de Marco Oddone

Segundo registros históricos, Francisco José Alves Souto, filho do Visconde de Souto (Antônio José Alves Souto), casou-se pela primeira vez com Maria Luiza de França e Silva, mas não teve filhos. Apenas com a segunda esposa, chamada Maria Lapa de Salles Oliveira é que teve cinco filhos. A informação pode ser contraditória, pois no túmulo de Francisquinho consta que Maria Luiza era sua mãe. Curiosamente na certidão de óbito da criança, que está na Catedral São Pedro de Alcântara, está registrado apenas o nome do pai.
A fama de santo milagreiro veio depois que um senhor, que trabalhava no cemitério, fez um pedido para curar a úlcera. Ao ser atendido, deixou um brinquedo como forma de agradecimento e começou a espalhar a notícia. O baiano, como era conhecido, foi responsável por limpar a sepultura do anjinho por, aproximadamente, três décadas.
Ao pesquisar a história da criança, a Tribuna encontrou, no ano passado, um dos sobrinhos-netos da criança, pertencente à terceira geração da família. Francisco Souto Neto mora em Curitiba e, na época, estava finalizando um livro sobre o Visconde de Souto. A família não tinha conhecimento sobre a existência da criança. “Durante sete anos (entre 2007 e 2014) eu e minha prima Lúcia Helena Souto Martini pesquisamos sobre nosso trisavô e consultamos mais de 600 livros em busca de informações sobre o Visconde e encontramos alguns registros sobre nosso bisavô Francisco José Alves Souto, que era o 6º filho do Visconde de Souto, nascido na Chácara do Souto (bairro São Cristóvão no Rio de Janeiro)”, disse, acrescentando que durante a pesquisa, ele e a prima ficaram curiosos porque o bisavô faleceu muito cedo, com apenas 43 ou 44 anos. “Tentamos, em vão, descobrir a causa da sua morte, mas infelizmente são raríssimos os registros sobre sua vida”.

Francisco Souto Neto e Lúcia Helena Souto Martini,
sobrinhos-netos do Anjinho de Petrópolis

Entretanto, ao revirar os documentos descobriram que em 7 de março de 1868, o bisavô casou-se com Maria Luiza de França e Silva. Enviuvando, casou-se com Maria da Lapa de Salles Oliveira (“de Salles Souto” pelo casamento). “Francisco José e Maria da Lapa tiveram cinco filhos, o último dos quais Francisco Souto Júnior, nosso avô”, comentou.
De acordo com o sobrinho-neto do anjinho, em todas as fontes pesquisadas, não constava a existência de filhos do casamento de Francisco José com a primeira esposa Maria Luiza. “Sem termos como comprovar, imaginamos que ela tivesse morrido talvez vitimada por alguma das epidemias que assolaram o Rio de Janeiro no século 19”, afirmou.
Francisco lembrou que a surpresa foi enorme ao receber a notícia de que o bisavô teve um filho com Maria Luiza. “Com a passagem das décadas, seu túmulo ficou esquecido, e a própria existência do menino tornou-se ignorada e desconhecida pelos descendentes de Francisco José Alves Souto”, lamentou.
Ele avaliou ainda um detalhe interessante que foi o fato do pai do Anjinho dar seu próprio nome acrescido de “Filho”, e que após o segundo casamento, deu novamente seu nome a seu quinto filho, mas agora acrescido de “Júnior”. 
A notícia foi contada a tia Jacyra Souto Martini (mãe de Lúcia Helena), a última de sua geração, que reside em Paulínia (SP). “Ela ficou sensibilizada ao tomar conhecimento de que teve um tio que faleceu ainda bebê, a quem têm sido atribuídos muitos milagres. Eu, particularmente, fiquei surpreso e estou planejando viajar com minha prima a Petrópolis para conhecer o túmulo e nele depositar flores à memória daquele que tem, segundo a fé de cada um, intercedido por milagres, e que se tornou para muitos um caminho de esperança e de luz”, finalizou.
Link desta edição digital:
http://www.tribunadepetropolis.net/Tribuna/index.php/class/21566-um-anjinho-que-e-tido-como-santo-milagreiro.html
-o-