terça-feira, 11 de outubro de 2011

Francisco Souto Neto: A CATEDRAL DE ROUEN E A IGREJA DAS PEDRAS QUE CAEM


Jornal do Centro Civico – Ano 4 – Julho 2007 – Nº 43
Diretor-presidente: José Gil de Almeida

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Jornal Água Verde – Ano 16 – Novembro 2007 – Nº 315
Diretor-presidente: José Gil de Almeida

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A CATEDRAL DE ROUEN E A IGREJA DAS PEDRAS QUE CAEM
Francisco Souto Neto


          Visitei a cidade francesa de Rouen na companhia de Rubens Faria Gonçalves. Ambos desejávamos passar alguns dias na histórica cidade, explorando seus aspectos culturais, principalmente a Arquitetura. Eu, em particular, tinha curiosidade em conhecer os locais historicamente marcados por Joana d’Arc.

          Nós visitamos a sinistra torre em que a santa de Orleans foi torturada, o local – hoje marcado por um canteiro de flores e uma imensa cruz – em que foi morta na fogueira e a igreja onde, anos depois, sua memória foi reabilitada.

A catedral

          Rumamos à catedral, e à medida em que a alcançávamos, eu perdia o fôlego ante a beleza das torres desse obra-prima do gótico francês. Ela é quase um delírio de vários arquitetos da Idade Média que, em diferentes épocas, realizaram suas múltiplas e altíssimas torres desiguais. No ano de 1200 ela sofreu um grande incêndio, e a reconstrução foi financiada pelo famoso João Sem Terra, Duque da Normandia e Rei da Inglaterra. A agulha central é gigantesca, neogótica, em ferro fundido.

          Meu amigo Rubens observou que aquela mistura de tantas torres de diversos formatos e alturas numa fachada retilínea, chegava a ser uma confusão. Concordei, dizendo-lhe: “Para mim, é um forrobodó arquitetônico”. Fomos então contornando a catedral, procurando pela famosa Fachada Oeste, a preferida de Monet, tantas vezes retratada pelo velho mestre impressionista. Monet tinha razão ao dizer que aquele lado da igreja era o seu predileto. Tal fachada é simétrica, com um rendilhado extraordinário e a rosácea magnífica. Rubens gostou demais e disse que, não fossem os excrementos de pombos ali no chão, ele se deitaria para melhor apreciar aquele espetáculo monumental. De tanto olhar para cima, chegamos a sentir-nos tontos. Tiramos muitas fotos do exterior do templo.

As diversas torres da fachada principal da Catedral de Rouen,
um verdadeiro delírio arquitetônico. Foto Souto Neto.

Fachada Oeste da Catedral de Rouen, com duas
torres, era a predileta de Monet. Foto Souto Neto.

          Por dentro, ela não é menos fantástica. Um dos destaques, visto só com visitas guiadas, é o túmulo onde está enterrado o coração de Ricardo Coração de Leão. Acima da lanterna da torre central fica a já mencionada agulha neogótica, cercada de três outras torres secundárias. Falta a quarta torre, que desabou durante um vendaval há cerca de 20 anos, atravessou o teto e caiu quase sobre o altar. Há uma exposição permanente com fotos do estado em que ficou a igreja e do processo da sua restauração.

St. Ouen, a igreja das pedras que caem

          Há na cidade, várias outras igrejas de estonteante beleza. Uma delas é a St. Ouen, cuja construção começou em 1318 e terminou no século 15. Enegrecida pelo tempo, tem toda a fachada interditada e placas que afastam os transeuntes com as seguintes palavras: “PERIGO – PASSAGEM PROIBIDA – QUEDA DE PEDRAS”. Tal como em outra igreja que tínhamos visto na cidade de Honfleur, também desta há blocos imensos que, vez ou outra, se desprendem, espatifando-se no solo. Imaginamos que se por fora estava em total degradação – apesar da beleza extraordinária – o interior deveria estar cheio de teias de aranha e ratos.

Fachada da Igreja de St-Ouen.

À esquerda, a prefeitura de Rouen. À direita, o
lado norte da Igreja de St-Ouen.

Lado sul da Igreja de St-Ouen. A placa branca adverte:
"ATENÇÃO: PASSAGEM PROIBIDA. QUEDA DE
PEDRAS". A parede negra, atrás de Francisco Souto
Neto, é de pedras encardidas pela passagem dos séculos.


Atrás de Rubens Faria Gonçalves, os fundos da Igreja
de St-Ouen, onde as pedras estão limpas, restauradas.

          Contornando a igreja, vimos que pessoas entravam nela por uma porta lateral, onde não havia placa de perigo ou passagem proibida. Eu me senti muito curioso e entrei, não sem antes dar uma olhadinha para os blocos de pedras acima da minha cabeça, enquanto o desconfiado Rubens preferiu esperar do lado de fora. Que contraste: o interior, grandioso, estava totalmente restaurado, com as paredes limpas, e tudo impecável. A luz penetrava gloriosamente através dos vitrais, caindo sobre o órgão de impressionantes dimensões, e fazendo fulgurar as esculturas folheadas a ouro. Chamei pelo Rubens que entrou, admirado ante o contraste do exterior, que está desmoronando, com deslumbrante interior da igreja.

          Muito em breve, sem dúvida, St. Ouen não será mais a “igreja das pedras que caem”, porque suas paredes exteriores serão também restauradas, as pedras seculares fixadas e o templo brilhará por mais mil anos.

-o-


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