Jornal do Centro Cívico – Ano 4 – Abril 2007 – Nº 40
Diretor-presidente: José Gil de Almeida
Página 11:
Capa:
Jornal Água Verde – Ano 15 – Maio 2007 – Nº 309
Diretor-presidente: José Gil de Almeida
Página 22:
Capa:
BONDE EUROPEU E BONDE CURITIBANO, VERDADES E MENTIRAS
Francisco Souto Neto
Tanto as grandes cidades europeias quanto as de médio porte costumam contar com excelentes sistemas de metrô. Os bondes tradicionais, trafegando nas ruas, não se tornaram anacrônicos, pois continuam sendo importantíssimo meio de transporte coletivo. Algumas cidades, como Roma, suprimiram algumas linhas, porém modernizaram outras, introduzindo bondes maiores e melhores.
No interior da França, por exemplo, são inúmeras as cidades que continuam utilizando os bondes. Em Strasbourg (ou Estrasburgo), onde estive há pouco tempo, a prefeitura inaugurou um dos sistemas mais modernos do mundo. As composições de dois vagões geminados, contando com imensas janelas e portas, e com a cabine de comando que se assemelha a um foguete futurista, têm o piso à altura da calçada. Isto quer dizer que o passageiro entra na composição sem subir degraus. Para uma cadeira de rodas, por exemplo, não há qualquer obstáculo.
Parodiando "O Grito" de Munch, Francisco Souto Neto brinca
de estar recebendo um "choque cultural" ao ver o futurista
bonde de Strasbourg, na França, um exemplo de
transporte coletivo bonito, confortável e eficiente.
Francisco Souto Neto e os bondes de Strasbourg: um
século à frente do transporte público coletivo do Brasil.
O bonde é infinitamente melhor do que o ônibus, por motivos óbvios: ele segue sempre pela mansidão dos trilhos, sem os constantes ziguezagues comuns aos ônibus; é silencioso, a velocidade é alcançada suavemente e não há curvas bruscas, daquelas que, nos ônibus brasileiros, amontoam os passageiros que se espremem pelos corredores.
Portugal, Itália, França, Alemanha, Suíça, Áustria, Finlândia, Suécia, Noruega... são inumeráveis os países que continuam usando bondes e modernizando-os continuamente.
O bonde curitibano
Justamente por saber como é bom e confortável usar bondes, fiquei muito feliz quando Jaime Lerner, numa das suas gestões como prefeito de Curitiba, anunciou que implantaria o que chamou de “bonde moderno”. Na época eu era um entusiasta das boas ideias do prefeito, tido então como “um administrador e não um político”, e aplaudi entusiasticamente a novidade. Um desenho do bonde curitibano, que entre o Passeio Público e a antiga Estação Ferroviária trafegaria em túnel abaixo do nível da rua como um pré-metrô, serviu para ilustrar a capa do carnê do IPTU daquele ano, distribuído a todos os proprietários de imóveis da capital do Paraná.
Tanto acreditei no projeto que, ao receber da conhecida colunista Iza Zilli um honroso convite para colaborar com um artigo para o seu livro “Cartas a Curitiba”, escrevi um texto que exaltava aquele compromisso de Lerner com o cidadão curitibano. E viva o bonde! O livro foi lançado em meados dos anos 80 com o sucesso que é habitual às publicações da respeitada colunista.
Mas quanto ao meu artigo, só depois percebi que eu enaltecia nada mais do que vãs promessas eleitoreiras. O projeto do bonde desfez-se em nuvens. Os curitibanos esqueceram-se do episódio? Eu não me esqueci. Foi aí que começou a minha decepção pelo referido ex-prefeito, decepção esta que culminou anos depois com a quebra do Banestado, episódio de sobejo conhecido e lamentado, quando alguns diretores do banco oficial paranaense (homens da confiança de Lerner nas suas gestões de governador do Estado), promoveram o chamado “Escândalo Banestado” de tão triste memória.
Para mim, bonde e metrô são um a extensão do outro. Agora, pela milésima vez, anuncia-se a construção do metrô curitibano. Dá para acreditar? Não. Tornei-me cético dos governantes que vêm acariciar nossas esperanças com falsas promessas eleitoreiras. Infelizmente, neste triste país a mentira e a corrupção (como a que se vê em Brasília) grassam cada vez mais e em dimensões que começam a assustar. Até quando os curitibanos esperarão por um transporte coletivo decente? Quosque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?
-o-
Columnist Francisco Souto Neto attributes Lerner’s opposition to political rivalries. Approximately:
ResponderExcluirOne of Jaime Lerner’s projects during his last term as preifeto (Mayor) of Curitiba was establishment of a new type of public transport, which he called bonde moderno (“modern streetcar”). This, according to Lerner himself, would act as a pré-metrô de superfície (“surface pre-metro”) with the first line extending north-south. This would be built underground for only a few blocks near the business center. Then, during a second stage, the line would be transformed into a full-scale metro, built underground for its entire length. However, apparently for lack of resources, the former mayor saw the project frustrated, to be remembered only on property-tax coupon covers and journals of the era. Curitibanos remembered this as, inherently, just another projeto eleitoreiro (“electioneering project”), promised but never built.
Last year, Beto Richa announced - as a candidate for re-election and then as the victor - that the city would begin building the first north-south metro line. But Lerner, his photo on the front page of the Gazeta do Povo newspaper, said this was a (sic) promessa eleitoreira (“electioneering promise”) by the young Richa and that the metro would not be built. Now the magazine “Vega,” in its issue of April 15, 2009, features an interview with Lerner [see article by Marcelo Rucini, above] about Richa’s project for building the metro. Strangely, the old ex-Mayor expresses viceral opposition to building a rail system that he, as Mayor, wanted to deploy. Lerner said that the ideal public transport is provided on the surface by buses in exclusive busways, and that a metro is a costly system that will not solve the public transportation problem of the capital of Paraná state.
The canaletas para ônibus (“busways”), designed in the 1970s, represented a creative innovation. These were, above all, the project of Lerner the architect and were recognized as such even from abroad. However, they were developed when Curitiba was a medium-sized provincial city with about 600,000 residents. Now, at the end of the first decade of the 21st Century, the system no longer meets the needs of the residents of the Paraná capital, home to nearly two million in the city and more than three million in the metropolitan area.
Imagine what would happen to cities to cities like Paris, London or New York without a metro. It would be chaos, the opposite of the civility they represent. No major city in the world can dispense with an underground metro system on rails. The cities where visionary administrators began building their metros back in the 19th Century now provide their residents with public transportation that is pleasant, fast and efficient. It is obvious that a metro should function as an integrated part of a public transport system including surface transport, as in all good cities of tthe world.
Underground transport is the only possible alternative for relief of surface traffic congestion. Obviously, a single metro line will not solve Curitiba’s transport problems. A metro is a work in progess, to to be expanded over the decades and centuries, but we need a Mayor who will start construction. Only cities with major rail networks can improve the quality of life for their residents.
The reason Jaime Lerner is opposed to the metro has become obvious, and may be read in the words of several journalists who have commented on the issue: Lerner does not want to see his “model transport system” erased, with modern “Beto Richa trains” running under the avenues and the busways transformed into gardens.
(O ARTIGO CONCLUI NA PRÓXIMA POSTAGEM)
Concluindo o artigo de Francisco Souto Neto, acima transcrito pelo site norte-americano "Public Transit" no seguinte endereço:
ResponderExcluirhttp://www.publictransit.us/ptlibrary/Curitiba_2010_03.htm
The great planners of the past grow old, and their ideas grow stagnant in time. It is now time to support the metro project of Beto Richa, and successive mayors and entrepreneurs, all imbued with getting rid of the rot and rancidity of the past by adopting programs more consistent with the times in which we live.
(Souto Neto, Francisco. “Metrô curitibano: Richa versus Lerner.” Jornal Centro Cívico. No date; written in 2009.)
http://www.jornalcentrocivico.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=57:metro-curitibano-richa-versus-lerner&catid=35:francisco-souto&Itemid=54
PDF version:
http://www.jornalcentrocivico.com.br/index.php?view=article&catid=36:noticias&id=57:recuperacao-de-espacos-culturais-de-curitiba&format=pdf)