Jornal Água Verde – Ano 19 – 2010
Diretor presidente: José Gil de Almeida
Página 20:
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Jornal Água Verde: VISCONDE DE SOUTO – ASCENSÃO E “QUEBRA” NO RIO DE JANEIRO IMPERIAL
Os primos Francisco Souto Neto e Lúcia Helena Souto Martini estão, desde 2007, pesquisando e escrevendo a biografia de seu trisavô António José Alves Souto, o visconde de Souto (1813-1880).
Expoente do Segundo Reinado, o visconde de Souto foi o primeiro banqueiro particular de que se tem notícia no Rio de Janeiro. Sua casa bancária, A. J. A. Souto & Cia., popularmente conhecida como Casa Souto, rivalizava com o Banco do Brasil em carteira de depósitos. Ao falir em 10 de setembro de 1864, episódio historicamente conhecido como “Quebra do Souto”, arrastou de roldão outros bancos e cerca de cem empresas. O passivo da Casa Souto equivalia à metade da dívida pública interna do Brasil.
Desde então, o visconde de Souto foi citado num enorme número de livros, em maior ou menor profundidade, quer como personagem do seu tempo, quer como protagonista da Crise de 1864. Dentre as centenas de autores dessas obras, vale mencionar alguns, como Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar, Arthur Azevedo, visconde de Mauá, barão do Rio Branco, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Ruy Barbosa, Afonso Arinos, Teófilo Ottoni, Pedro Calmon, Raymundo Faoro, Gilberto Freire, Wilson Martins, Victor Viana, Luís Viana Filho, Werneck Sodré, Eduardo Bueno... e outros.
O visconde de Souto foi presidente da Beneficência Portuguesa e fundador da Junta de Corretores, que deu origem à Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Fez parte da primeira diretoria da Caixa Econômica Federal.
Duas propriedades do visconde de Souto tiveram grande fama à sua época. A primeira foi a Chácara do Souto, onde residia, em São Cristóvão , que confinava com os terrenos da mansão do Chalaça e com a Quinta Imperial da Boa Vista. Na chácara instalou uma coleção de animais vivos da fauna brasileira e também importados da Europa e África, o primeiro zoológico brasileiro, que abria gratuitamente à visitação aos domingos. A segunda foi a Fazenda Bela (ou Boa) Vista, cujo proprietário anterior, conde de Gestas, já tornara famosa por receber ali, frequentemente, a visita do rei D. João VI e, anos mais tarde, do seu filho D. Pedro I e família imperial. Nessa fazenda, em parte um cafezal, situada onde é hoje a Floresta da Tijuca, o visconde de Souto mandou construir um oratório que continua existindo, a Capela Mayrink, nome do seu último proprietário.
Pelos casamentos dos filhos, aparentou-se com as famílias de marquês de Olinda, conde de Ipanema, visconde de Pirassununga e Euzébio de Queiroz.
Quando da falência da Casa Souto, o imperador D. Pedro II, de quem o visconde era amigo, mandou instaurar uma comissão de inquérito para determinar as causas da crise e suas responsabilidades, tendo sido o visconde de Souto inocentado em 1866 e reabilitado publicamente pelo Conselho de Estado em 1869.
Esta obra, que tem como ponto focal a Crise de 1864, também descreve o panorama social, político e econômico do Brasil oitocentista, enquanto relata a maneira como surgiram as primeiras casas bancárias neste país e como os bancos foram tomando as feições de como hoje os conhecemos.
Os autores optaram por transcrever trechos de livros, documentos e cartas, assim mantendo a visão pessoal e direta de cada escritor que se referiu ao visconde, à sua casa bancária e à Quebra do Souto.
Souto Neto e Lúcia Martini ainda não têm patrocinadores. Mas prevê-se que essa obra revelará fatos históricos que estão arquivados na Biblioteca Nacional, SPHAN, Arquivo Nacional, Real Gabinete Português de Leitura, IHGB, Museu Histórico Nacional, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, e outros, praticamente desconhecidos até mesmo de historiadores.
Legendas originais em 2010: Foto 1 – Visconde de Souto (1813-1880), fotografia acervo Museu Histórico Nacional. Foto 2 – Capela do Souto (hoje Capela Mayrink) mandada construir pelo Visconde de Souto em 1850. Fotos 3 e 4: Os autores Francisco Souto Neto e Lúcia Helena Souto Martini.
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