terça-feira, 30 de agosto de 2011

EUROPA, CÃES E BOAS MANEIRAS por Francisco Souto Neto


EUROPA, CÃES E BOAS MANEIRAS
por Francisco Souto Neto


Jornal do Centro Cívico Ano 3 – Julho 2004 – Nº 18
Diretor-presidente: José Gil de Almeida

Página 13:


Capa:



 EUROPA, CÃES E BOAS MANEIRAS
Francisco Souto Neto


Na época em que uma Copa do Mundo de futebol foi realizada na França, lembro-me de ter casualmente assistido pela televisão, se não me engano no programa de Ana Maria Braga, a uma senhora que fazia algumas recomendações de boas maneiras aos brasileiros que estivessem programando viagem àquele país. Segundo ela, procedimentos considerados normais no Brasil poderiam ser recebidos pelos franceses como ofensivos.
Dizia aquela senhora que, ao entrar numa banca de revistas ou numa loja, seria considerado de má educação fazê-lo sem cumprimentar a quem estivesse atrás do balcão. Bonjour Madame, ou Mademoiselle, ou Monsieur (Bom dia Senhora, ou Senhorita, ou Senhor) e que, mesmo que estivesse ali uma vendedora muito jovem, o tratamento respeitoso de “senhorita” não poderia ser dispensado. E que, entre outras coisas, a fórmula correta para aceitar ou recusar algo, seria sempre: “Sim, senhorita, por favor”, ou “Não, senhorita, obrigado”, conforme o caso.
Outro detalhe lembrado pela senhora: “Jamais deixe de pedir desculpas caso esbarre em outra pessoa, ainda que muito de leve. Pardon! (“Desculpe-me!”) seria a palavra a distinguir um cavalheiro ou uma dama de uma desprezível criatura não civilizada.
Observou também que, à mesa, jamais se usasse a faca para empurrar comida ao garfo, coisa corriqueira, mas muito feia, no Brasil, porém inaceitável aos franceses, que considerariam o gesto grosseiro. A faca deveria repousar obliquamente na borda do prato, sendo usada somente para cortar aquilo que não pudesse ser seccionado pelo garfo...
Essas normas, creio eu, nada têm de novo aos brasileiros bem educados, pois são válidas também tanto para o nosso país quanto para quaisquer outras nações de formação europeia. Contudo, e lamentavelmente, aquela senhora tinha razão em suas orientações, porque tem havido, sim, muitos exemplos dessa falta de educação por aqui. Mas o outro lado do Equador não está de todo imune às falhas...

Cães e seus donos mal educados

Tenho notado que nos países europeus de origem latina as pessoas não têm sido tão rigorosas no tocante aos cães e às boas maneiras. Desde que, ainda muito jovem, viajei à Europa pela primeira vez, venho observando, principalmente na Itália, que não se dá muita importância à higiene nas ruas. Enquanto estava sendo filmado, eu mesmo quase perdi o equilíbrio ao escorregar em cocô de cachorro na Piazza Navona, uma das mais belas de Roma, o que ocorreu também num dos maravilhosos becos de Veneza. As cenas, em vídeo, motivo de risadas posteriores, são uma permanente lembrança do quanto os italianos podem ser desleixados nesse ponto.
Mas nos últimos anos, principalmente em cidades do interior dos mencionados países, tenho visto, em cantos mais reservados das praças públicas, aquilo que chamei de “privada de cães”, que são espaços delimitados por cercas quase ao rés do chão, forradas de areia e com um ou mais cepos de árvore no centro, como se fossem pequenos postes.


Francisco Souto Neto apontando a um "toilette canino" 
no Parque da Cidade, centro de Honfleur, França.

Segundo informações que recebi, funcionários fazem limpeza diária, substituindo a areia já usada. Na fotografia que ilustra este texto, estou apontando a um “toilette canino” no “Parque da Cidade” em Honfleur, porto da Normandia, França. Aí está um bom exemplo do que as municipalidades francesas estão fazendo pelos proprietários bem educados e seus cães.

Donos bem educados

Não há cão bem ou mal educado. Há, sim, dono bem ou mal educado. E os melhores exemplos de boa educação tenho presenciado principalmente nos países de idioma alemão: Suíça, Áustria e a própria Alemanha. Na Suíça, há muitos e muitos anos, foi onde pela primeira vez encontrei, em determinados pontos das cidades, e também em trilhas dos Alpes ao redor de povoados, pequenos postes dotados de sacos de plásticos, com indicação para o seu uso em vários idiomas e em desenhos: servem para que o dono colete as fezes dos seus cães, que devem ser jogadas na cesta de lixo contígua. Filmei alguns desses lugares para exibi-los a amigos no Brasil.
A Europa é um modelo! E em Curitiba estamos começando a ver que já existe a conscientização dos donos de cães. Tenho notado que alguns desses proprietários, embora ainda em minoria, esmeram-se em carregar papéis e plásticos para limpar as “sujeiras” que seus cães eventualmente façam nas nossas calçadas.
Tenho um Chihuahua que se chama Paco Ramirez de San Martín. Ao sair para passear, de preferência pelos jardins do Centro Cívico, levo os meus “instrumentos de limpeza” e gosto que as pessoas observem quando limpo o cocô que meu cão possa fazer, mesmo que seja sobre a grama, e não apenas na calçada. Um vizinho e velho amigo, Rubens Faria Gonçalves, que reside alguns andares acima, com seu Buldogue Francês chamado Tibério Bouledogue, também age da mesma forma. É, sem dúvida, o bom exemplo há muito assimilado da Europa, que temos tido o prazer de difundir na capital do Paraná. Só através da boa educação, em todos os sentidos, poderemos ter a esperança de uma cidade melhor e um país mais organizado.


Tibério Bouledogue e Paco Ramirez de San Martin,
cães bem educados.

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 OBSERVAÇÃO: Este texto foi também publicado no Jornal Água Verde de Agosto 2004, de propriedade de José Gil de Almeida. Também a Folha do Batel (agora de propriedade de Celina Suzy) de Agosto 2004 publicou-o, porém o texto saiu incompleto e, por engano do jornal, foi ilustrado com fotografia de gatos, e não de cães.

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