terça-feira, 16 de agosto de 2011

PALÁCIO VIZCAYA, O MELHOR DE MIAMI por Francisco Souto Neto


PALÁCIO VIZCAYA, O MELHOR DE MIAMI
por Francisco Souto Neto


Folha do Batel Ano 4 – Abril 2003 – Nº 41
Diretor-presidente: José Gil de Almeida

Página 4:

Capa:


PALÁCIO VIZCAYA, O MELHOR DE MIAMI
Francisco Souto Neto


O Palácio Vizcaya, agora um museu de artes decorativas, proporciona uma experiência única aos visitantes. Trata-se de uma soberba residência em estilo do Renascimento Italiano, construída nos arredores de Miami no começo do século XX, pelo milionário norte-americano James Deering (1859-1925).
Minha visita a Miami, em companhia de minha irmã Ivone Souto da Rosa, foi circunstancial. Nosso destino final seria Nova York, para visitarmos nosso irmão Olímpio Souto e sua esposa Maria Aparecida d’Elboux Moreira Souto. Mas antes de seguirmos viagem à “Big Apple”, detivemo-nos em Miami porque dali partiria o imenso navio Ecstasy, no qual faríamos um cruzeiro de alguns dias pelo Mar das Antilhas, com parada no México.

Riqueza versus pobreza

Chegamos a Miami três dias antes do embarque no Ecstasy, para que assim pudéssemos explorar um pouco a maior cidade da Flórida. Impressionou-nos o aspecto futurista do lugar, com o seu metromover (uma espécie de bonde de alta tecnologia) que cruza todo o centro da urbe sobre trilhos aéreos e sem condutor. É, por incrível que pareça, um contraste com a inesperada pobreza de um segmento da população e com a tão propalada violência urbana que realmente existe no centro de Miami, onde assaltos à mão armada são frequentes. Na manhã em que nos valemos daquele moderníssimo transporte coletivo, vimos quando marginais pularam as roletas para a entrada do metromover, burlando o pagamento e ingressando no veículo com um quê de ameaça aos demais passageiros. Ficamos um pouco assustados, mas por sorte, na estação seguinte, embarcaram dois policiais, e então observamos os marginais (que eram da raça negra) baixarem o tom da voz, desembarcando em seguida, quase em debandada. Das janelas do metromover notamos que, àquela hora da manhã, muitos moradores de rua ainda dormiam ao relento, não muito diferente do que costumamos ver no Brasil.
Tratamos de ater-nos às belezas que nossa estada na Flórida pudesse nos proporcionar. Uma delas, fora de Miami, é o distrito art-déco de Miami Beach. Esta, na verdade, não é a Miami propriamente dita, mas outra cidade, com prefeitura e administração próprias. Entretanto, creio firmemente que não haja nada, em toda a região de Miami, que se compare à magnificência do Palácio Vizcaya.

O Palácio Vizcaya

Vai-se ao Palácio Vizcaya de metrô. Após o desembarque, caminha-se por algumas centenas de metros até que se chega ao portão da propriedade que é, a propósito, vizinha da mansão do ator Silvester Stallone. Após o portão de entrada, o extenso caminho que passa pelo centro de um compacto e úmido bosque, é de grande exuberância. A sombra das frondosas árvores, somada à umidade, abranda o imenso calor da Flórida, até que numa curva do caminho revela-se a fachada de Vizcaya, considerada uma das mais magníficas casas de toda a América do Norte, em igualdade com as fabulosas mansões de Newport.
A construção ocorreu de 1914 a 1916, para ser a casa de inverno do industrial James Deering. Numa época em que ainda não se pagava imposto de renda nos Estados Unidos, os ricos eram desmesuradamente ricos e construíam palácios para serem usados apenas uns três meses por ano, no inverno, quando acorriam à Flórida para fugir aos rigores das baixas temperaturas de Nova York e das demais grandes cidades situadas ao Norte.

Ivone e uma das fachadas do Palácio Vizcaya.

Souto Neto e a fachada principal do Palácio Vizcaya.

A grande riqueza de Vizcaya não está apenas na opulenta arquitetura dos três andares do palácio, mas também na decoração dos seus interiores. O antigo proprietário importou da Itália, e em parte da França, quase todos os móveis, tapeçarias e peças de arte. Não eram objetos contemporâneos, mas obras já de muitos séculos. Os tapetes são dos séculos XVII e XVIII, tapeçarias da Idade Média, os móveis autênticos Louis XV e Louis XVI, as esculturas realmente da Roma Antiga, e as egípcias vindas de remotas dinastias. Entretanto, dizer que maior parte dos objetos é proveniente da Itália e França talvez não corresponda muito bem à extensão da arte encontrada no palácio, porque à medida em que se sucedem os cômodos, encontramos, por exemplo, na Sala Chinesa, exemplares de porcelana do Império Ming. Nos quartos há mobiliário Biedemeier (austríaco), do Império Napoleônico, veneziano de trezentos anos... Enfim é praticamente impossível descrever a universalidade os tesouros do Palácio Vizcaya. Enquanto eu e Ivone atravessávamos as dezenas de cômodos, ela se extasiava em ininterruptas exclamações de admiração.

Os jardins

Ainda mais impressionantes que o palácio, são os jardins de influência principalmente francesa. Repletos de deslumbrantes estátuas e magníficas fontes, eles contam até com um labirinto, no qual minha irmã entrou e teve dificuldades para encontrar a saída. O passeio pelos jardins tomou-nos cerca de duas horas de puro encantamento. Esculturas em rocha calcária fazem parte da arquitetura dos jardins, mas o conjunto das obras envolve as mais variadas procedências. Por exemplo, há estátuas de mármore de Carrara do século XVII e outras do mesmo período, provenientes de um jardim de Messina, Sicília, que sobreviveram a um terremoto provocado pelo Etna em 1908.

Ivone Souto da Rosa e as estátuas
dos jardins do Palácio Vizcaya.

Francisco Souto Neto e uma das mesas de
mármore nos jardins do Palácio Vizcaya.

Ivone e uma das muitas fontes de Vizcaya.

Numa das extremidades dos jardins encontramos o cassino da propriedade, hoje desativado, que surpreende pela pintura do teto, um afresco que combina um impressionante trompe l’oeil inspirado na Escola de Tiepolo do século XVIII com adições do pintor suíço Paulo Thevenez (1891-1921).
Entre arbustos e flores, deuses gregos e romanos, do alto dos seus pedestais, parecem vigiar os passos dos admirados visitantes.
Depois de deixarmos a Florida e de termos feito o cruzeiro pelo Mar das Antilhas, embarcamos pela American Airlines para Nova York. A bordo do avião, rememorando nossa estada na Flórida, eu e Ivone não pudemos deixar de rir do curioso paradoxo: para nós, o melhor da norte-americana Miami foi... um palácio italiano!

-o-


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