ISLÂNDIA, TERRA DO GELO E DO FOGO
por Francisco Souto Neto
Folha do Batel Ano 4 – Junho/2002 – Nº 32
Diretor-presidente: José Gil de Almeida
Capa:
Página 5:
ISLÂNDIA, TERRA DO GELO E DO FOGO
Francisco Souto Neto
A Islândia, cuja área corresponde à metade do Paraná, é uma república insular totalmente vulcânica. Lá existem cerca de 200 vulcões, dez por cento dos quais ativos, e incontáveis gêiseres. Isto acontece porque o país fica sobre uma falha tectônica do planeta, onde as placas continentais da América do Norte e da Europa se chocam. A ilha da Islândia está situada entre o Atlântico Norte e o Oceano Glacial Ártico. Embora a uma distância de somente 300 quilômetros da Groenlândia (América do Norte), ela é considerada como o país mais ocidental da Europa e, além disso, parte da Escandinávia, isto porque sua população de apenas 279.000 habitantes é formada por descendentes de noruegueses e celtas. Seu extremo norte toca o Círculo Polar Ártico. No auge do verão, a temperatura média fica por volta dos 10 graus centígrados, e o sol não se põe totalmente: ele apenas resvala sob o horizonte, assegurando a permanência da luz e da claridade durante as 24 horas do dia. No inverno a situação se inverte, pois a temperatura cai a dezenas de graus negativos e só há um pouco de claridade entre as 10 e as 14 horas, ocasião em que o sol apenas “arranha” o horizonte islandês.
Os gêiseres
Souto Neto e, atrás, o pequeno gêiser Smidur.
Viajei à Islândia em companhia do professor e psicólogo Rubens Faria Gonçalves. Uma vez em solo islandês, apressamo-nos em fazer um passeio à área vulcânica dos gêiseres, distante cerca de 80 quilômetros de Reykjavík (108.000 habitantes), a capital do país. A localidade chama-se Geysir, onde se localiza o gêiser mais ativo do mundo, o Strokkur, que entra em erupção a cada de três a cinco minutos.
Atrás de Souto Neto, o Grande Geysir em repouso.
A poucas dezenas de metros do Strokkur, encontra-se o chamado Grande Geysir, com sua imensa cratera fumegante, que está em repouso há anos. Ele é chamado de “o avô de todos os gêiseres”, porque sua denominação transformou-se no substantivo que dá nome a todos os gêiseres do mundo. Em islandês, “geysir” significa “fúria”.
Às costas de Rubens Gonçalves, o
gêiser Strokkur entrando em erupção.
Momentos depois, o Strokkur completa
a sua erupção de 30 metros de altura.
A água do Strokkur é ejetada a 30 metros de altura (tanto quanto um prédio de dez andares) e a uma temperatura de 140 graus centígrados. Embora o Strokkur se constitua no mais notável dos fenômenos do local, nada para mim se compara às pequenas crateras, verdadeiros “filhotes de gêiser e de vulcão”, com cerca de apenas uns 30 centímetros de diâmetro, às vezes ainda bem menores, que ficam borbulhando ruidosamente o enxofre misturado à lama, como se fossem espessos doces de abóbora ao fogo... Cheguei a ajoelhar-me para poder ver, bem de perto, uma cratera borbulhante que não teria mais do que o diâmetro do fundo de uma garrafa.
Souto Neto, de longe, observa
e filma uma cratera fumegante.
A região é perigosa e existe uma possibilidade, embora remota, de alguma área ceder ao peso da pessoa. Isto já aconteceu no passado, com turistas perdendo a vida ao mergulharem nas massas ferventes.
Lavas de Thingvellir
O livro “Maravilhas do Mundo”, de Rolando Gööck, editado pelo Círculo do Livro, inclui Thigvellir, na Islândia, como uma das 23 maravilhas da Europa e do mundo.
Para entender-se o significado de Thingvellir, é preciso saber que a Falha Atlântica (o enorme acidente geológico que atravessa o mundo quase de pólo a pólo e que desloca a Europa e as Américas em sentidos opostos) é toda submarina, exceto na Islândia, onde ela aflora e corta – mas não separa – o país.
Caminhando-se pelo centro da Falha, parece tratar-se, à primeira vista, de um largo caminho entre dois altos paredões verticais de rochas vulcânicas. Na verdade, as forças titânicas do subsolo (isto é, os fluxos de magma) empurram as rochas para cima e para os lados opostos ao mesmo tempo, nos sentidos leste e oeste.
No centro da Falha de Thingvellir, Rubens Gonçalves
aponta as paredes que se alargam quatro centímetros ao ano,
dois para o lado da Europa e outros dois para o lado da América do Norte.
Tais paredões, talvez com uns 20 metros de altura, parecem fixos... Mas na verdade eles afastam-se e alargam-se a uma velocidade de quatro centímetros por ano. Isto significa que a Islândia cresce dois centímetros anuais para cada lado.
que fez a lava ardente ao resfriar.
No topo dos paredões, por onde andamos cuidadosamente, pode-se ver o sinuoso enrugamento que o magma ardente fez ao resfriar e solidificar em forma de rocha. É possível correr os dedos pelo relevo e reconhecer, ali, os vestígios da criação do mundo.
Alta civilização
“Islândia” significa “terra do gelo”. Seria mais justo chamá-la de “terra do gelo e do fogo”. No entanto, apesar de tantas adversidades geológicas, o povo islandês é extraordinariamente bem educado e feliz. A média de homicídios no país é de... apenas dois ao ano! Existem cadeias, mas estão quase sempre vazias. Lá praticamente não se conhece o roubo ou o furto. Ninguém precisa roubar, porque o povo é rico, sem exceções. Basta dizer que aquele país é a segunda renda per capita do mundo. Não há analfabetos. O governo dá prioridade aos assuntos de saúde, educação e cultura. É um país muito próximo da utopia, o mundo perfeito.
Deixamos a ilha muito impressionados com tudo aquilo que vimos, desde seus vulcões e geleiras, aos gêiseres em erupção. A verdade é que andar por certas regiões da Islândia é o mesmo que caminhar pelo princípio dos tempos, quando as forças do planeta formavam o seu primeiro relevo.
Ilustrações originais: 1 – Atrás de Rubens Faria Gonçalves, o gêiser Strokkur entrando em erupção. 2 – Francisco Souto Neto filmando a lava solidificada de Thingvellir.
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