Jornal Água Verde – Ano 14 – Setembro 2005 – Nº 289
Diretor-presidente: José Gil de Almeida
Página 13:
Capa:
PARQUE TÍVOLI EM COPENHAGUE, DINAMARCA
Francisco Souto Neto
A Dinamarca é um dos reinos mais encantadores do mundo. Sua área, que inclui nada menos do que 450 ilhas, além da península denominada Jutland, tem 43.095 quilômetros quadrados, quase cinco vezes menor do que o Paraná, e com população também inferior ao nosso Estado federativo. No entanto, é um dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo, com renda per capita altíssima, e com uma ordem social e cultural de dar inveja. É um dos países nórdicos que compõem a Escandinávia.
Quando pela primeira vez estive na sua capital Copenhague, no final da década de 70, fiquei surpreso com a elegância das mulheres, pois naquela época todas as senhoras – portanto, as mulheres casadas – não saíam, a qualquer hora do dia ou da noite, sem chapéu e, quase sempre, luvas. Não se viam dois chapéus iguais, de modo que as cabeças femininas eram coroadas por cores alegres, nas mais diversas formas. E ainda que assim, tão chiques, era comuníssimo vê-las pedalando suas bicicletas, às centenas, pelas ruas da cidade.
A pornografia
Naquela época em que vivíamos no Brasil sob a ditadura militar que restringia as liberdades individuais, eu, ainda muito jovem, sentia grande curiosidade pelos países permissivos. Na Dinamarca, lembro-me da minha surpresa ao ver, nas ruas centrais, as lojas de pornografia que se sucediam, quase lado a lado, mostrando objetos “escandalosos” nas suas vitrines voltadas para a rua, coisa que ainda não acontece neste Brasil de 2005.
Fotografei, e também com minha câmera de cinema Super-8 filmei pessoas que passavam por aquelas calçadas com a maior naturalidade, sem evitá-las ou desviá-las. Por exemplo, viam-se mães empurrando carrinhos de bebês, freiras trajando seus hábitos, senhoras idosas apoiadas em bengalas, pais puxando crianças com uma das mãos que, tomando sorvete, olhavam para dentro das vitrines quase sem interesse e sem parar.
Aquela foi, sem dúvida, a minha primeira lição de que a imoralidade e o preconceito não estão, necessariamente, naquilo que se mostra e que se vê, e que talvez as pessoas pequem mais pelo que escondem do que pelo que exibem. No entanto, em Copenhague não havia nada que atraísse mais, a jovens, adultos ou idosos, do que o Parque Tívoli.
Souto Neto observa que pais com crianças pequenas não
evitam passar pelas calçadas com lojas de vitrines ponográficas.
Em Copenhague, mães com filhos, e crianças empurrando
carrinhos de bebês, passam com naturalidade pelas
ruas com vitrines que exibem objetos pornográficos.
Nas duas outras vezes em que estive naquela capital, notei que algumas coisas mudaram. Por exemplo, agora poucas senhoras usavam chapéu. Mas lojas de pornografia continuam lá, na mesma quantidade de antes, causando aparentemente a mesma apatia aos transeuntes. Porém o que não mudou absolutamente em nada, foi o Parque Tívoli e o interesse que continua a provocar nos nativos e visitantes...
O Parque Tívoli
O mais importante ponto turístico de Copenhague, o Parque Tívoli, foi fundado em 1834. Já são 171 anos de encanto, magia, beleza e alegria. Trata-se de um centro de lazer que conta com diversos teatros, parque de diversões, lanchonetes, restaurantes. Realizam-se concertos e espetáculos de dança e de balê. Logo após a principal porta de entrada, há à esquerda um teatro ao ar livre onde, diariamente, pierrô encontra colombina.
O encanto que o Tívoli produz em nossas almas é indescritível, e reforçado pela exuberância dos seus jardins floridos e cheios de cor, que se estendem entre pavilhões mouriscos e pagodes chineses.
Ao ar livre, apresentam-se espetáculos de circo, pequenas peças da Commedia dell’Arte e, inúmeras vezes, assistem-se a apresentações de bandas de jazz.
Duas vezes por semana há poderosa queima de fogos nos céus do parque. À meia-noite os enormes e engenhosos artefatos sobem no ar como num passe de mágica e, durante 15 minutos, iluminam todo o centro de Copenhague.
Francisco Souto Neto nos jardins do Parque Tívoli.
Rubens Faria Gonçalves no Parque Tívoli. Ao fundo,
idosos que passam horas conversando, entre flores.
Souto Neto nos canteiros do Parque Tívoli.
Rubens Gonçalves no Jardim das Rosas do Parque Tívoli.
Souto Neto no Parque Tívoli de Copenhague.
Em 1993, meu amigo Rubens Faria Gonçalves acompanhou-me a Copenhague e durante três dos seis dias que ali passamos, entrávamos no Tívoli na hora do almoço e só deixávamos o parque à noite. O lugar é de tal modo magnetizante que basta dizer que por volta do ano de 1930 o jovem Walt Disney esteve ali e, tão encantado ficou, que se sentiu inspirado a criar, nos Estados Unidos, um parque que fosse ao menos um pouco parecido com o Tívoli... e foi assim que nasceu a Disneylândia na Califórnia, um parque que se multiplicaria depois pela Flórida, França, Japão...
Outras atrações
Obviamente, Copenhague não é somente o Parque Tívoli, pois há muito, muito mais. Arquitetonicamente não é tão interessante quanto outras capitais europeias, porém isso não arrefece o brilho da sua notável riqueza histórica e cultural. Contudo, há maravilhosos castelos, não só na cidade, como nos arredores. O Castelo de Helsingor, por exemplo, serviu de inspiração para a tragédia Hamlet, de Shakespeare.
Francisco Souto Neto em frente à Sereiazinha de Copenhague.
Rubens Faria Gonçalves em Copenhague, em
frente a uma loja de pães e queijos.
Os dois mais importantes monumentos da cidade são as estátuas de bronze de Hans Christian Andersen, um dos mais famosos autores de contos infantis, e da Sereiazinha – aliás, personagem de uma das histórias do referido autor – que é o símbolo de Copenhague e se encontra sobre uma pedra, não tanto às margens, mas dentro do próprio canal.
A mais famosa frase da tragédia Hamlet, “há algo de podre no reino da Dinamarca”, sem dúvida corresponde apenas à imaginária situação enfrentada pelo príncipe no castelo do seu pai, assassinado pelo amante da mãe... Na realidade, o que há no reino da Dinamarca é algo de extrema beleza, de gente educada, rica e bem nutrida, de ausência de violência e mendicância, e... da magia emanada pelo Parque Tívoli.
-o-
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