Jornal Água Verde Ano 13 – Novembro 2004 – Nº 280
Diretor-presidente: José Gil de Almeida
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Página 7:
Folha do Batel Ano 6 – Dezembro 2004 – Nº 54
Diretora-executiva: Celina S. P. Ribello
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O velho Português e o português da esquina,
ou
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O IDIOMA PÁTRIO
Francisco Souto Neto (*)
O título é quase um trocadilho. Em verdade, quando me refiro ao Português com P maiúsculo, estou aludindo ao idioma pátrio, isto é, à Língua Portuguesa. Mas ao usar o p minúsculo, faço referência àquele senhor, o cavalheiro da casa da esquina, que nasceu em Portugal.
Do mesmo modo, se digo que vou para o exterior, é porque estou indo para o lado de fora da minha casa; mas se vou para o Exterior, é porque pretendo viajar para outros países.
Como o idioma é vivo, ele vai mudando com a passagem do tempo. Aquilo que na escola da minha infância era incorreto, hoje pode ser certo ou aceitável. Assim é que as mais respeitadas revistas do Brasil, tais como Veja e Istoé, e também alguns dos melhores jornais, adotaram “português”, com minúscula, como sendo o nosso idioma, e “exterior” para os países além do Brasil. As pessoas mais conservadoras e muito amigas do vernáculo continuam usando as maiúsculas, enquanto as demais – principalmente as que nem notam tais diferenças – valem-se das minúsculas.
Realmente inadmissível é o erro grosseiro quando perpetrado pelos órgãos de informação, justamente aqueles que deveriam primar pelo correto. Programas dublados na televisão por assinatura, por exemplo, vêm cometendo erros que são verdadeiras ofensas aos ouvidos atentos. No History Channel, que recebo através da TVA, captei as seguintes “pérolas” do programa “Máquina do Tempo: Anjos”, exibido às 21 horas do dia 20 de outubro deste 2004: “Entencionalmente excluíram um grande número de textos judaicos, nos quais os anjos maus e inúmeros anjos com nomes desempenham papéus proeminentes”. Estão lá, aproximadamente aos 40 minutos do referido programa, para quem quiser ouvir, os dois erros grosseiros pronunciados numa única frase. Ao falar de maneira bem clara e explícita, o locutor não sabe que a palavra “intenção” começa com “i” e... duvido que o plural de papel não lhe seja desconhecido, mas fica evidente que não houve um mínimo cuidado por parte dos revisores.
Também o canal People and Arts e o National Geographic Channel têm cometido erros tão primários quanto assustadores. Não precisamos ir tão longe: Glória Maria, a simpática repórter do Fantástico, disse na edição de 7 de novembro passado: “...e os alimentos degenerativo...”, esquecendo-se do “s”. Tal esquecimento de plurais é uma verdadeira praga na televisão. Ao falar “Eles estão muito contente”, pregam o relaxo, o desleixo e a má-vontade no palavreado.
Já escrevi um texto de página inteira sobre o verbo “vim” que encontro, diariamente, fluindo dos lábios de amigos meus, de conhecidos, e de quase toda a fauna da televisão, que vai de Sílvio Santos e Raul Gil aos desconhecidos entrevistados pelas ruas de cidades desde país imenso e descuidado, todos eles dizendo: “você pode vim”, em vez de “você pode vir”, e "se você vim" em vez de "se você vier"!
Poucos têm bastante apuro para reclamar dos erros lidos e ouvidos no dia-a-dia, com faze meu amigo Luiz Alberto, que reclama dos que não conhecem as diferenças do “onde” e do “aonde”... e outros, tais como Rubens, Dönatz, Regina e Robert, que têm pelo Português o raro respeito que este merece.
Ao iniciar este texto, pensava eu em dar algumas regras para que as pessoas aprendessem a falar e escrever melhor. Mas pelo caminho mudei de ideia, acreditando que a única saída para quem não domina o Português é, com humildade e consciência, tomar aulas numa boa escola ou com professor particular. A sugestão é válida até mesmo para os detentores de curso superior, porque é incrível o que há de “doutores” errando no mais primário Português e conjugando o escabroso verbo “vim”!
(*) Francisco Souto Neto é advogado e jornalista.
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